Relaxamento Na MTC
Relaxamento
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1.1 BREVE RESUMO
Num primeiro momento, os intelectuais das culturas orientais foram aqueles que começaram a utilizar as técnicas de relaxamento para fins próprios e pessoais. Todas as técnicas eram centradas no processo respiratório, nas posturas corporais e numa alimentação cuidada. A intenção era a obtenção de um equilíbrio óptimo. Em muitas ocasiões, os poderes mentais direccionados para a cura, e, também para a magia, surgiam como um desenvolvimento de capacidades, obtido através de longos treinos, e, através do funcionamento da mente sob um estado de completo relaxamento.
Na Idade Média, monges e sacerdotes combinavam exercícios de relaxamento com exercícios espirituais, que naquele tempo divergiam das formas que actualmente conhecemos, já que representavam uma fonte da harmonia, de auto-conhecimento e resposta a perguntas, dúvidas e necessidades.
A partir dos finais do século XIX, profissionais da Medicina, Neurofisiólogos, Psicólogos, Psicoterapeutas, Artistas e especialistas do ritmo e do movimento, descobriram o importante papel que o estado de relaxamento aponta para o desenvolvimento dos ser humano no sentido de uma melhor qualidade de vida na conquista de objectivos e para a execução de actividades especificas.
Hoje em dia, esta questão desenvolve-se em bastantes direcções, desde o ponto de vista técnico como também em relação estreita com um leque de realidades que começaram a ser observadas à luz da própria investigação e através de estudos de metodologias e modalidades.
Quando se recorre à prática, qualquer que seja a técnica de relaxamento, pela qual se opte, o objectivo que se pretende atingir é o de conseguir harmonia, equilíbrio e um estado de relaxamento físico e mental benéfico para o desenvolvimento de uma inteligência criativa e emocional, assim como a aplicação do bem-estar adquirido em várias áreas da vida quotidiana.
Com a concepção e divisão dualistas do ser humano, mente por um lado e corpo do outro, a contemplação, a meditação e a concentração eram recursos e estratégias associadas a um desenvolvimento de bem-estar mental e de desenvolvimento espiritual.
Hoje em dia, numerosos estudos trazidos até nós pela investigação demonstram a estreita relação entre mente e corpo. Chegamos à conclusão de que as sociedades ocidentais, ditas desenvolvidas, só agora começam a aproximar-se de formas de pensar e técnicas milenares como aquelas que desde sempre foram utilizadas pela China e pela MTC.
1.2 FANG SONG GONG
FANG SONG GONG, é o primeiro trabalho básico para o cultivo do relaxamento corporal, que conduz a um relaxamento respiratório e mental. No Fang Song Gong, estuda-se o conceito de movimento, no sentido da calma e da quietude. Se bem que este conceito se refira a um movimento "nei" - interno: move-se e dá-se atenção à circulação interior do Qi, Xue (Qi: energia vital, fortaleza da condição física...; Xue: sangue e outros líquidos orgânicos. Além disso, o próprio acto de respirar pressupõe com todas as suas acções intrínsecas, uma massajem interna dos orgãos, das vísceras, e, dos invólucros dos mesmos e dos que cobrem diversos músculos. Este conceito de movimento por si mesmo, no seu aspecto YANG, supera o seu próprio significado ao enfrentar-se a um outro aspecto, o YIN, o de mais "estático" interno, da respiração ou circulação. Assim, a teoria ensina-nos que esta primeira forma, o modelo de JING GONG, controla através do movimento (aparentemente, interno) a própria respiração no desenvolvimento da técnica, tendo em consideração a intenção, o pensamento activo consciente, de onde provêm "a lucidez", como uma vela que, a favor de vento impulsiona uma caravela, "o corpo".
Por isto o Qigong, diz que o Fang Song Gong surge primeiro, o Qiang Zhuan Gong, o trabalho e o cultivo (desenvolvimento da força interna energética) surge em segundo, e, Nei Yang Gong o cultivo do Shen: a energia mental que navega por entre os neurotransmisores celulares no cérebro e na espinha vertebral, asim como o pensamento criativo ou intenção, chega em terceiro lugar.
1.3 ACERCA DO CONCEITO DE RELAXAMENTO
Observando-se a etimologia da palavra "Relaxamento", observamos que em latim "Relaxatio" significava acção, soltar e também efeito de suavizar, e, por outro lado, "Relaxator" era o medicamento que ajudava a obter um estado de relaxamento.
O poeta Virgílio disse: "O acto de relaxar é uma forma de abrir os olhos e as vias para conseguir uma melhor respiração. "
Cícero, era de opinião de que, num estado de relaxamento, o ventre se soltava e se distendia. Também dizia que "Relaxar significa serenar o espírito como um sono reparador".
Na língua grega, o verbo relaxar pressupõe alargar, estender e está relacionado directamente com a acção de desatar, libertar e resolver.
Segundo o dicionário da ACL – Academia de Ciência de Lisboa -, "Relaxação", acção de relaxar ou de se relaxar, é geralmente acompanhada de um decréscimo de tensão nervosa e mental, de que resulta uma sensação de repouso; diminuição ou desaparecimento de uma tensão; "Relaxe" - Distensão, depois de grande esforço físico ou de grande tensão psíquica.
Já o dicionário da Real Academia Espanhola fala numa terminologia forense ao dizer: "diminuir dores e castigos."
1.4 DEFINIÇÃO DE RELAXAMENTO
Na realidade, o relaxamento é diminuir o tónus muscular através de diferentes praticas existentes. Relaxamento, também tem outras finalidades já que ao sujeito, ao qual se aplica, ou que aplica a si próprio, é induzido um mundo de sensações e evocações, uma "emersão introspectiva", segundo os cientistas Kammerer , biólogo, e Durand de Busingen, psicoterapeuta contemporâneo.
Não existem bons ou maus métodos, mas existem indicações especificas quanto à utilização de cada um dos métodos. Quem promove o relaxamento, seja professor ou terapeuta, deve actuar evitando as suas projecções e tentando entender as necessidades daqueles que recorrem às suas praticas de relaxamento. O relaxamento é essencialmente relacional e no entanto flexível. É aplicado para processos de cura e/ou bem-estar a nível individual ou de grupo e pode a pratica levar à obtenção de óptimos resultados, tomando em conta a intensidade presente, no aqui e agora, com que é vivida cada sessão.
1.5 RELAXAMENTO NA MTC
A condição necessária para o sucesso de cada exercício tanto no Tai Chi como no Qigong, é conseguir obter um estado prévio de relaxamento. Muitos dos exercícios mencionados, neste trabalho, requerem um conhecimento e uma consciência, na sua base, do auto-relaxamento. Não esquecer que a vida do dia a dia conduz o organismo humano a um estado de activação psicofísica que frequentemente conduz a situações de stress. O repouso e o sono levam o organismo a recuperar e a integrar as energias despendidas durante o dia. Porém o stress perdura por muito tempo e não chegamos a descarregar as tensões somente com o repouso. O organismo vê-se obrigado a manter internamente, tensões inoportunas que se traduzem inevitavelmente em desequilíbrios funcionais dos órgãos internos e/ou contracções musculares crónicas. A pratica do Tai Chi e do Qigong, por exemplo, faz emergir estas tensões e alerta-nos sobre elas. No entanto, a aplicação das praticas de relaxamento durante os exercícios facilitam a descarga destas tensões aportando ao praticante uma sensação de bem estar.
O relaxamento é um método de intervenção preciso sobre o sistema nervoso central e indirectamente sobre o sistema nervoso autónomo que utilizando técnicas apropriadas permite modificar voluntariamente uma situação de excitação induzindo uma outra de inibição. Processo que hoje facilmente podemos observar através de modernos sistemas de registo electrofisiologico que evidenciam, por exemplo, certas reduções: do tonus muscular, dos valores de pressão, da frequência cardíaca, do ritmo respiratório, da condutibilidade eléctrica da pele, da temperatura do corpo, etc. Mas para relaxar podemos, em vez disto, indicar a especifica condição física e mental que é subjectivamente definida por serenidade. Somente graças a uma semelhante condição, a pessoa consegue ter condições para viver e desempenhar com empenho e de forma saudável as suas actividades diárias. Os exercícios de relaxamento tem como objectivo não só o bem estar momentâneo como, também através da sua pratica frequente, fazer com que o praticante utilize nas suas actividades diárias somente as energias mentais e musculares necessárias. É portanto possível reflectir, caminhar, trabalhar, comer de forma relaxada.
O termo chinês para "Relaxamento" é Fangsong Gong, onde Gong indica a habilidade no relaxar-se: no âmbito da concepção medica taoísta, isto representa a condição necessária para poder actuar de modo verdadeiramente eficaz em qualquer pratica que tenha em vista a saúde e o bem-estar.
Segundo a MTC o homem é um todo composto por corpo, mente e espirito, três componentes inseparáveis que interagem reciprocamente e onde qualquer desarmonia provoca doenças. As técnicas de relaxamento são portanto o primeiro passo para a completa harmonia do organismo, a cura de doenças e o aumento da potencialidade energética, tudo condições que levam a uma boa saúde e a uma maior longevidade.
O mais imediato campo de acção da pratica do relaxamento é o sistema muscular. É certo, já sabemos desde há muito, que para manter um bom tonus muscular é importante evitar contracções durante muito tempo, que possam vir a traduzir-se em situações crónicas. As contracções musculares crónicas reduzem o fluxo de sangue à zona em contracção, relentando as transmissões dos impulsos nervosos e o metabolismo celular em geral e, segundo a Medicina Chinesa, se a condução de energia se mantiver bloqueada, a longo prazo, pode tornar-se ou fazer surgir uma situação patológica.
Após, uma tomada de consciência acerca desde primeiro nível relacionado com a parte muscular, começamos a aprender a relaxar de uma maneira cada vez mais profunda, conseguindo obter outras conquistas verdadeiramente importantes. Antes de mais, descobrimos que podemos obter consciência do próprio equilíbrio interno, o que nos permite reagir de modo adequado quando se nos deparam as mais diversas adversidades. Em segundo lugar – e certamente ninguém duvidará da importância desta questão – pode conseguir-se influenciar voluntariamente o fluir da energia em
algumas zonas do corpo, por exemplo, naquelas que podem estar doentes ou fragilizadas, aumentado a energia ou diminuindo-a conforme as necessidades.
Com os exercícios para a condução interna do Qi temos a possibilidade de influir, só com o pensamento, sobre os meridianos energéticos e consequentemente agir sobre os órgãos internos.
Não se trata somente de aprender praticas ou métodos de relaxamento, há que considerar tudo isto como um primeiro passo de um caminho para uma consciência própria cada vez mais rica. Por outro lado, as indicações e exemplos de Mestres e Professores são também muito importantes, pois podem levar-nos a esferas cada vez mais altas de consciência e de conhecimento.
O relaxamento actua, portanto, como um momento de união entre o que nos parece ser somente corpóreo e aquilo que parece ser somente mental, ou até incorpóreo. O efeito é a combinação de um estado de repouso do corpo e da mente, mantendo, no entanto, todos os sentidos perfeitamente despertos e afinando ao máximo a consciência de si próprio.